terça-feira, 24 de junho de 2008

Aos Novos Pequenos Mártires


“Ser criança não deveria doer” (Prof. Doutora Zélia Barroso).

É com esse sentimento e nessa perspectiva que aqui tentamos expressar o nosso “grito” frente à violência praticada contra as crianças, violência essa que representa uma problemática que atravessa os tempos, as sociedades, as culturas, as classes sociais e econômicas, com características bastante semelhantes nos diferentes países, quer tenham maior ou menor grau de desenvolvimento.

Mas, será o “grito” suficiente?

Em um primeiro momento nos parece importante, pois tem se verificado um verdadeiro “pacto do silêncio” diante de tamanha atrocidade. Silêncio por parte de quem agride, de quem violenta, que muitas vezes até admite uma normalidade nos seus atos. Silêncio por parte desses pequenos mártires, que motivados quer pelo medo, quer pela dificuldade em serem ouvidos, acreditados, não conseguem expressar com a real dimensão, esse verdadeiro flagelo social.

Assim, há que calar o silêncio, através do desenvolvimento, disponibilização e divulgação de indicadores, bem como da sensibilização da sociedade civil, da forma mais ampla possível. “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” (
Sophia Breyner).

Embora saibamos que não existem soluções universais e radicais, e que os métodos de prevenção e repressão não tem se mostrado suficientemente eficazes, existem questões de alteração de mentalidades - do público em geral, das vitimas e agressores, das autoridades públicas , judiciais e policiais - que devem ser trabalhadas. Há que trabalhar as respostas legais. Há que mudar mentalidades. Há que mobilizar profissionais vocacionados e comprometidos com esta questão, para com ações que envolvam a multidisciplinariedade participem de modo consistente desses processos de mudanças, bem como, de apoio efetivo às pequenas vítimas. Há que fazer prevalecer os direitos humanos e, em particular, os direitos das crianças.

As leis, por mais perfeitas que sejam, não representam a única solução. É nessa perspectiva que queremos transformar o nosso “grito” em ação dentro da nossa condição e dever profissional e na concepção do exercício da cidadania.

A cada profissional engajado no trabalho seja de prevenção ou intervenção, nasce junto a possibilidade de mudança da história de violência doméstica contra criança e adolescente, seja ela física, psicológica, fatal, enquanto negligência ou sexual.

Carta escrita por Mira Almeida e Dalzirê Vaz

e

endereçada ao LACRI/USP em junho de 2006

2 comentários:

Fátima Guedes disse...

A sensibilidade e a acção perante este grave problema não somente de natureza social, mas também política e económica é exercer a cidadania. E, exercer a cidadania significa não só fazer valer os nossos direitos, mas tambem os nossos deveres perante a sociedade, mas significa também assumir influência e interferência na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, portanto, de um mundo melhor. Atitude como essa deve ser realçada e incentivada. Parabéns
Fátima Guedes
Portugal

AULA PARTICULAR INGLÊS BRASÍLIA disse...

Olá, me chamo Thais e sofri violência doméstica severa quando era criança/adolescente. Sua filha me indicou o blog e fiz questão de repassá-lo. Achei muito legal e importante a iniciativa. Trabalhei com a Rose...
Obrigada por abordar o assunto. Faço parte da campanha "Não bata, eduque!" Acho que estamos carentes nessa área.